ABSTRACT
Objetivos: Analisar a incidência e evolução clínica da COVID-19, em pacientes com neoplasias mieloproliferativas Filadélfia negativas (NMP) acompanhadas em um único centro. Materiais e métodos: Estudo prospectivo, unicêntrico, observacional, em andamento. Foram aplicados dois questionários aos pacientes com NMP em seguimento ambulatorial, com um intervalo de 6 meses e coletados dados clínicos e laboratoriais dos prontuários médicos. Através dos questionários, buscamos identificar casos confirmados e suspeitos de COVID-19, avaliar dados comportamentais durante a pandemia, exposição, vacinação e analisar os fatores de risco para gravidade e prognóstico. Os dados foram coletados e armazenados no sistema REDCap. Resultados: Entre novembro/2020 e julho/2021, foram avaliados 145 pacientes, 65 (44,8%) com trombocitemia essencial (TE), 40 (27,6%) com policitemia vera (PV), 33 (22,8%) com mielofibrose primária (MF) e 7 (4,8%) com NMP não-classificadas. A mediana de idade foi de 67,4 anos;65,5% eram mulheres;86,1% apresentaram alguma comorbidade, sendo as mais prevalentes hipertensão (51,8%), diabetes (17,5%) e cardiopatias (13,1%). A adesão ao isolamento social foi de 82,8%. 9% dos pacientes receberam a primeira dose da vacina para COVID-19 e 11% receberam as duas doses, sendo 57,1% CoronaVac, 39,3% Oxford/Astrazeneca e 3,6% Pfizer. Nove pacientes (6,2%) tiveram diagnóstico confirmado de COVID-19 (por PCR ou sorologia) e 5 (3,4%) quadro clínico suspeito. Dentre os casos confirmados, sete eram TE e 2 PV, com mediana de idade de 44 anos. Quatro estavam em uso de hidroxiureia (HU) e AAS, um HU e um sem tratamento. Sete casos foram leves e dois moderados, com hospitalização, mas sem necessidade de ventilação mecânica ou oxigênio. Não houve óbitos por COVID-19. Seis pacientes afirmaram seguir as medidas de isolamento social e três haviam recebido a primeira dose da vacina, sendo que em dois casos a infecção ocorreu após o início da vacinação (um após a vacina Oxford/Astrazeneca e o outro após as duas doses da CoronaVac). Discussão: A alta faixa etária dos pacientes com NMP e a alta prevalência de comorbidades são fatores de risco e vulnerabilidade à COVID-19. As NMP possuem maior risco de complicações tromboembólicas e hemorrágicas e nível aumentado de citocinas pró-inflamatórias, principalmente na MF, que tornariam esta população mais suscetível a formas mais graves da COVID-19. Um estudo italiano mostrou uma alta taxa de mortalidade pela COVID em pacientes com NMP (33%). Observamos uma incidência de COVID-19 menor do que a observada na população geral (8,7%), que pode ser relacionada à alta adesão ao isolamento social nos pacientes mais idosos. A mediana de idade dos casos de COVID foi menor do que a do grupo total, possivelmente pela maior exposição desses pacientes. Pelo tamanho da amostra não foi possível analisar letalidade e gravidade. Conclusão: Observamos uma frequência maior de COVID-19 em pacientes mais jovens, com TE e PV. As medidas preventivas devem ser mantidas, pois foram observados casos pós vacinação. Pelas características do estudo, não foram detectados casos graves, mas serão rastreados os pacientes com perda de seguimento durante a pandemia e que não responderam aos questionários, no intuito de identificar mortes por COVID-19 nessa população.
ABSTRACT
Background: Although initially considered at higher risk for severe presentations of COVID-19, observational studies with SCD patients have mostly pointed to clinical severity similar to the general population. However, the level of vulnerability of these individuals to become infected and the determinants for their contagion are still uncertain. Aims: To assess the prevalence of SARS-Cov-2 antibodies in SCD patients followed at a Brazilian center and its correlation with phenotypic and socioeconomic determinants. Methods: A questionnaire was applied regarding demographics, socioeconomic status, use of Hydroxyurea, working status and income, COVID-19 symptoms, and the perceptions about social isolation measures. Blood samples were taken for chemoluminescence IgG (anti-N) and IgM (anti-S) anti-SARS-CoV-2 tests (Abbott Architect™, Ireland);specific neutralizing antibody titers were accessed observing the cytopathic effect in cells incubated with patient serum-virus mixture. Results: From Jul/20 to Jan/21, 214 serological tests were performed on135 patients (86% of SCD patients registered at the center): 82 HbSS (61%), 41HbSC (30%), 8Sβ+ (6%), 4Sβ0 (3%);57% male and median age 42 (19-74). 66% were using Hydroxyurea and 4% were on chronic transfusion. In the analyzed period, 61 (45%) patients had vasoocclusive crises;37 (27%) had symptoms suggestive of COVID-19, but only 2 patients had a positive PCR for SARS-Cov-2. When questioned, only12% of patients did not consider themselves vulnerable to infection, and only17% believed that individual and collective protection measures were expendable. In fact, 91% stated that they were able to adopt basic social distance measures, with 76% reporting cancellation of social events and 64% managed to reduce the use of public transport, but only 44% could work or study remotely. Regarding serological evaluation, 57 patients (42%) were tested more than1 time during this period: 46 with 2 tests,11 with ≥ 3 tests. Among all patients,15 had positive results: 9 IgG/IgM+ and 6 IgG+ only, therefore with an overall seroprevalence of11%. Seroconversion was documented for only1 patient during the study period and, interestingly, with no signs and symptoms of infection. Moreover, 2 patients lost positivity for IgG 3 months after the initial positive test. The search for functionally neutralizing antibodies resulted in 9 patients with low titers (□1:40) and only 3 patients with remarkably high titers (≥1:640). There were no correlations between test positivity and education, income, number of household contacts and maintenance of work outside the home;however, serological positivity was associated with older age (40.3 x 22.9, p<.001) and regular use of public transport (Fisher exact test, p=0.02). Only1 patient in this cohort needed hospitalization for COVID-19, including mechanical ventilation and exchange transfusions, but was discharged after14 days Summary/Conclusion: These data attest to the effectiveness of social distancing instructions given to patients in our SCD clinic throughout the pandemic, considering the low overall positivity and only1 seroconversion during the study period. The fact that only1 patient in our center had severe disease agrees with other reports showing less severity for SCD than initially expected. In fact, the transient positivity of serological tests and the low levels of functional neutralizing antibodies in SCD patients may indicate the acquisition of protective immune responses that are not dependent on antibodies and that still need to be better evaluated.